quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Referências

ARANTES, Otília. O Lugar da Arquitetura depois dos Modernos. São Paulo: Edusp/Estúdio Nobel, 1993.

http://www.fag.edu.br/graduacao/arquitetura/anais2006/2003/trabalho_piano.pdf


Imagens:
http://www.centrepompidou.fr/

Prefácio

O seguinte trabalho é baseado no texto de Otília Beatriz Fiori, denominado Os dois lados da arquitetura Francesa Pós-Beaubourg extraído do livro O Lugar da Arquitetura depois dos Modernos. Trata-se de uma breve análise sobre o Centre Beaubourg, projeto da década de 70 do arquiteto italiano Renzo Piano em parceria com Richard Rogers. Ao longo do trabalho iremos falar a respeito do momento sócio-político de Paris no período da construção do edifício e apontar algumas críticas a respeito dessa obra de grande peso do cenário mundial.

Momento sócio-político I


De acordo com a autora, desde a construção do Beaubourg, a França vinha tentando ocupar um lugar de peso na arquitetura mundial e essa construção foi alvo de muito público e muitas críticas. Quanto ao momento sócio-cultural que os franceses vivam, era de uma crise generalizada e eles tentavam se organizar em “outras bases”, no caso, a arquitetura como uma delas. A arquitetura além de ser a mais antiga arte de massa, ao longo dos séculos ela foi bastante utilizada pelos governos para mostrar sua imponência e grandeza. Pelo que eu saiba, somente em regimes militares que a arquitetura foi utilizada a favor da política vigente, e na forma de coerção e ostentação do poder. Retomando ao momento histórico na França, em 1981 na administração socialista de Mitterrand, investiu-se fortemente no embelezamento do país, na modernização de museus, no incentivo a produção cultural e no emprego de alta tecnologia. Tudo isso era feito tanto com intuito de dar mais vitalidade ao patrimônio quanto para a produção de uma nova cultura de massa. É interessante notar como tudo isso que aconteceu se reflete hoje na França, tida como o pólo cultural-artístico do mundo e que faz a população se orgulhar muito disso também.
A Otilia cita em determinada parte do texto que a arquitetura era o grande chamariz da cidade: “É tal a força com que os Grandes Projetos surgem no entorno que acabam provocando uma recuperação e reconstrução das áreas próximas. Mas, quando se faz assim, Paris inteira mudar de roupa em público a própria arquitetura torna-se fatalmente a principal atração”. Percebe-se com isso que toda a produção seja ela de arquitetura ou design é buscando refletir a identidade de uma sociedade contemporânea, pós-moderna e essa expressão não se refere mais ao conteúdo mas, a sua expressão enquanto cultura.

Momento sócio-político II


Otilia vai apontar que o período posterior ao edifício foi marcado por um investimento político menos generoso, os “Grandes Projetos” realizados na geração Mitt acabou sofrendo interferências da crise causada pela “abertura para o mundo”. Isso significa que a estratégia da política cultural imposta pelo governo socialista esta foi afetada. Foi preciso uma nova racionalização ou mesmo um recuo estratégico e com isso a arquitetura francesa começa a se mostrar não mais como a partir da criação, a palavra de ordem torna-se reciclagem.
A imagem da arquitetura High Tech
Junto com essa política de reciclagem veio a falsa imagem do high-tech, como a autora cita nesse trecho: “Como gerir esta contradição? Mitterrand e os socialistas vão se fixar mais uma vez na modalidades ideológico-administrativas da “ação cultural”, mas agora nos termos da animação cultural – algo que o Beaubourg e satélites colocaram em cena em escala industrial. Organizar visitas, programar debates, edições, atividades lúdico-pedagogicas, triar correspondência, atender os sócios dos vários departamentos etc. Tornaram-se uma habilidade profissional, sancionada por certificados e diplomas. Coube a grande política cultural dos anos Mitterrand operar a fusão entre publicidade e “animação”- este ramo mais soft da indústria cultural – ampliando o arquipélago Beauboug e planejando a cultura como uma entreprise, como se viu no inicio deste estudo.”
Nesse momento a autora define Paris sendo uma grande loja de departamentos do patrimônio cultural. Ela fala também de um suposto encerramento do ciclo Beaubourg na arquitetura internacional e um novo ciclo que ele ajudou a fundar para uma arquitetura do entreterimento.
Na minha visão, o Beaubourg foi uma arquitetura inserida no coração de Paris histórica que não gerou uma identidade com o local propriamente dito mas ele conseguiu materializar muito bem esse anseio de “viver o novo” que a sociedade buscava e que até hoje é assim. Dessa forma eu creio que a arquitetura francesa teve dois lados mas o Beaubourg não teve dois ciclos. A concepção dele nunca se alterou, creio que esses ciclos foram momentos de inconstância política que por carregar completamente em sua forma o estilo high-tech o Beaubourg foi rotulado, o que nos levou a pensar que ele teria dois ciclos. Mas o fato é que sua criação não alteraria em nada os rumos da arquitetura francesa.
A princípio o Estado estimulava os Grandes projetos e estampava alta tecnologia neles. Num segundo momento, com a redução dos gastos essas obras passaram a ser mais generosas como “reformas” mas aproveitando o entretenimento da tecnologia na arquitetura. O Estado tem o “high- tech” como uma ótima propaganda a seu favor.

Críticas


O trecho a seguir foi totalmente extraído da monografia de Ana Clessi Rhoden cujo tema foi o arquiteto Renzo Piano. Nesse trecho é apresentada a crítica de Paul Goldberg a respeito da obra de Piano:
“Na introdução do Livro, Renzo Piano, Bulding and Project (construções e projetos) 1971-1989, Paul Goldberg, crítico ganhador premio Pulitzer escreveu: “como quando um artista que produz um trabalho alebrado (grandioso) cedo em sua carreira, Renzo Piano tem, de várias maneiras, mais se confinado que liberado pelo Beaubourg Center. Conhecido primeiramente como o arquiteto que instalou essa “forma High-Tech em monumental escala dentro do coração de Paris”. E continua, referindo-se à Menil Collection no Museu de Houston, Texas, e estádio de futebol com 60.000 acentos em Bari, Itália, e ao complexo multi-funcional da gigantesca fábrica da Fiat em Lingotto próximo a Turim, Itália: “Existe a presença em todos esses projetos, de uma leve tendência e um amor óbvio pela tecnologia. Mas, onde a expressão de tecnologia em Beaubourg ela tem sido direta, pacifista, e muito mais criativo.”

Nesse trecho, fica evidente que o crítico aponta que o Beaubourg foi sem dúvidas uma importante obra para Paris. Porém, nota-se que depois dessa obra, o arquiteto permanece preso a tecnologia como elemento de expressão em suas próximas obras. Pode-se dizer que ele aderiu o “high-tech” como propostas para seus projetos.
Em outro momento, temos o comentário de Baudrillard a respeito do Beaubourg, este trecho foi retirado do trabalho Edifícios da arte: a cultura como moeda e troca produzido por Marco Estevão de Mesquita Vieira:
“Este espaço de dissuasão, articulado sobre a ideologia de
visibilidade, de transparência, de polivalência, de consenso e de
contacto, é virtualmente hoje em dia o das relações sociais. Todo o
discurso social está aí presente e neste plano, como no do tratamento
da cultura, Beaubourg é, em total contradição com os seus objectivos
explícitos, um monumento genial da nossa modernidade. É bom
pensar que a idéia não veio ao espírito de um qualquer revolucionário
mas sim ao dos lógicos da ordem estabelecida, destituídos de
qualquer espírito crítico e, logo, mais próximos da verdade, capazes,
na sua obstinação, de pôr em funcionamento uma máquina no fundo
incontrolável, que lhes escapa no seu próprio êxito, e que é o reflexo
mais exacto, até nas suas contradições, do estado de coisas actual
(BAUDRILLARD, op. cit., p. 83).”

Considerações Finais


Museu + Galeria+ Biblioteca +
Considerado apenas uma embalagem “high-tech” para um conteúdo “retrô” porque não oferecia nenhuma novidade no seu interior, somente o que acontecia dentro de qualquer outro museu, o Beaubourg de Roger e Piano foi alvo de várias críticas. Os críticos dessa época chegaram a apontá-lo como um museu que soube multiplicar o “efeito televisão”. Mas, se por um momento deixarmos de lado as críticas e analisarmos o panorama da arquitetura francesa percebemos que ela passa pelo seu melhor momento desde o período pompidoulinano. O Beaubourg é o marco dessa nova fase, apesar dele ter sido construído em meio a Paris histórica ele conseguiu trazer um olhar para a cidade, chamar a atenção para o momento de renovação urbana proveniente dessas grandes iniciativas governamentais que enfatiza o tempo a arquitetura como um “lugar público”. O Beaubourg, na minha opinião, é a materialização dos esforços de promover uma conotação de monumento tecnológico (uma metáfora do tempo em que vivemos) em meio a tantos monumentos históricos e, inserido no contexto urbano que ele foi, ele desperta nas pessoas a idéia de um novo tempo que preserva em seu entorno a sua própria historia.